quarta-feira, dezembro 10, 2014

BRASIL 2014: FISSURA ESQUERDA-DIREITA - POLÍTICA ECONÔMICA E A QUESTÃO MORAL VINHAM COMO PRETEXTOS PELA DIREITA - POLÍTICA SOCIAL, INTERVENÇÃO ESTATAL VINHAM COMO PRETEXTOS PELA ESQUERDA.

Hoje podemos dizer que os partidos de esquerda no Brasil não servem as suas próprias ideologias, eles é que se servem da ideologia, se tornando inconsistente e igual aos outros partidos. 

Após as eleições e a reeleição da presidente Dilma, o governo desrespeitou um dos pilares fundamentais da Lei de Responsabilidade Fiscal, um dos maiores avanços construídos no Congresso Nacional nos últimos 20 anos, do ponto de vista da gestão pública, e estabeleceu um novo padrão: Quando a lei não é cumprida, quando as metas não são alcançadas, muda-se a lei, muda-se as metas. Isso afugenta investimentos, desaquece a economia, deixa de gerar empregos para os brasileiros.
Falta função de estado. 
Do Ex-Blog do Cesar Maia – dia 08/12/14.

1. A queda do muro de Berlim e a desintegração da URSS trouxeram ao Centro, tanto os partidos de esquerda, como também os partidos de direita. No Brasil, essa dinâmica foi acelerada durante o governo Lula. A esquerda do PT perdeu o comando do partido com o mensalão, o sindicalismo assumiu, e o PT caminhou para o Centro.
        
2. Esta convergência entre direita e esquerda, no centro, era explicada por politólogos por uma hipotética convergência entre PSDB e PT no governo, diferenciados por nuances. A campanha presidencial de 2010 não alterou esse quadro. De certa forma, a crise financeira mundial de 2008 sim, ao levar o governo Lula para um keynesianismo de consumo, quebrando a lógica dos chamados fundamentos macroeconômicos.
        
3. O estagflação na segunda metade do governo Dilma trouxe de volta o confronto de ideias entre direita (mercado) e esquerda (estado), acentuado na eleição de 2014. De um lado, Armínio Fraga e de outro Guido Mantega. A cada debate presidencial na TV, essa fissura –esquerda-direita- ficava mais clara. A política econômica e a questão moral vinham como pretextos pela direita e a política social e a intervenção estatal vinham como pretextos pela esquerda.
        
4. Após a eleição, os fatos e dados sobre a crise fiscal, o caso Petrobras, o câmbio subindo e a bolsa caindo serviram de cenário para que Aécio Neves radicalizasse as críticas ao engodo eleitoral, indo ao extremo de dizer na TV que “perdeu a eleição para uma organização criminosa”. Essa radicalização serviu para radicais de direita pedissem o impeachment da presidente em pequenos grupos em SP.  O PT reagiu dizendo que se armava um esquema golpista. Uma retórica semelhante ao início dos anos 1960 – udenista x janguista.
        
5. Na passagem para o segundo turno, a afirmação pública de líderes do PSOL, que estariam com Dilma, sinalizou que a esquerda ideológica poderia se reagrupar. Eleita Dilma, ela procura acalmar o mercado com a escolha do ministro da fazenda mas –em nível político- se somou à polarização.
        
6. As 18 horas de debate em torno do PLN 36 –mudança da LDO- mostraram com transparência, que um novo (antigo) quadro político está se instalando sem qualquer inibição.  Nas três votações básicas nessas 18 horas, o PSOL votou com o PT. Os discursos inflamados da oposição –PSDB e DEM especialmente- as declarações à imprensa, as caras, bocas e gestos, a cada hora mostravam uma oposição caminhando mais à direita.        

7. O foco inicial de demonstrar que Dilma mentiu na campanha e Aécio mostrou a realidade foi caminhando para obstruir a aprovação do PLN-36 e –abertamente- abrir um processo contra Dilma por crime de responsabilidade. Isso, que até poderia ser um momento pós-obstrução do PLN, se transformou num argumento pré-votação.
        
8. A oposição errou ao radicalizar por três razões: vestiu a fantasia da direita, empurrou o PT para a esquerda num momento que seu fisiologismo estava estampado, e empurrou o PMDB em direção ao governo. Essa é uma tradição do PMDB. Sempre que o debate político ganha intensidade ideológica, a –digamos- esquerda do PMDB assume a hegemonia do partido e se desloca politicamente para o entorno da esquerda.
  
9. É assim –com a volta da polarização esquerda-direita- que a politica –oposição e governo- entra em 2015. Qual será o resultado disso? Para fazer memória de riscos, sugere-se a leitura (20 páginas) de A DESORGANIZAÇÃO DOS ANOS 1970, de Frederico MAZZUCCHELLI. Ver no blog de economia de José Roberto Afonso.  

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